Violência e ataques dos EUA aterrorizam populações no Caribe e elevam alerta sobre facção venezuelana no Brasil
24/11/2025
(Foto: Reprodução) Tren de Aragua: o cerco americano a narcotraficantes da Venezuela gera tensão na região
A América Latina está sob a mira de Donald Trump. Mais especificamente: o Mar do Caribe enfrenta a tensão de um conflito que pode se iniciar a qualquer momento. O presidente dos Estados Unidos (EUA) tem autorizado o bombardeio de embarcações, justificando a operação militar como uma investida contra cartéis de drogas latino-americanos.
No centro dessa disputa entre EUA e Venezuela está o Trem de Aragua (TDA), uma facção criminosa venezuelana que espalha violência por países como Colômbia, Equador, Peru, Chile e, agora, também o Brasil – como mostra a reportagem do Fantástico, da TV Globo, deste domingo (23).
Toda essa movimentação tem afetado gravemente a população da região. Para os pescadores de Santa Marta, na Colômbia, o mar não é mais o mesmo. A rotina de trabalho, que se inicia no final da tarde, agora inclui o medo de serem bombardeados pelos americanos. Por temor, eles se acostumaram a pescar somente na zona próxima à costa, a apenas 3 milhas, quando antes chegavam a 60 milhas, onde o peixe era maior e mais lucrativo.
“Não somos o que eles imaginam: que todos nós colombianos somos narcotraficantes. Não, isso é um erro”, conta o pescador Alfredo Patriño (veja vídeo acima).
Os pescadores de Santa Marta temem ter o mesmo destino de Alejandro Carranza. Em 15 de setembro, um dia após Alejandro ir para o mar, o presidente Donald Trump publicou um vídeo da explosão de um barco, anunciando ter destruído uma embarcação venezuelana carregada com drogas. No entanto, membros da colônia de pescadores notaram que a embarcação tinha características de barco colombiano.
Passados sete dias sem notícias de Alejandro, que era de família de pescadores, a família concluiu que ele estava naquele bombardeio.
Momento em que embarcação no mar do Caribe é atingida por ataque dos Estados Unidos, em 24 de outubro de 2025.
Reprodução/ g1
Já foram registrados 21 ataques, com mais de 80 mortos, que, segundo o governo dos EUA, seriam traficantes de drogas. Alejandro é o único morto identificado por uma autoridade: o presidente colombiano Gustavo Petro, que visitou sua família. A família nega o envolvimento de Alejandro com o tráfico. Petro classificou o bombardeio como assassinato e violação do direito internacional.
Não há previsão legal para que uma nação ataque embarcações dessa forma, e o governo americano não apresentou provas até o momento de que os 21 barcos atacados estivessem ligados ao narcotráfico.
A origem do Trem de Aragua
O Trem de Aragua, assim como as principais facções brasileiras, começou atrás das grades, na Penitenciária de Tocorón, a 170 quilômetros de Caracas. A jornalista venezuelana Rona Risquez, autora de um livro sobre o grupo, explicou que a facção se consolidou buscando reivindicação social para os presos, que estavam “abandonados” pelo Estado. Eles perceberam que poderiam obter melhores condições de vida e ter todo o controle da prisão.
O grupo decidiu transformar a prisão em uma espécie de resort, construindo discotecas, lojas de roupa de luxo, um zoológico e um estádio de beisebol, locomovendo-se de motocicletas dentro da penitenciária.
De dentro da prisão, os criminosos coordenavam crimes nas ruas, como sequestro, tráfico de pessoas, microtráfico de drogas, extorsões e tráfico de mulheres migrantes para exploração sexual. Em 2023, o governo Maduro anunciou ter expulsado o TDA do país, após uma operação policial, mas o chefe da facção fugiu.
Com o agravamento da crise humanitária na Venezuela, o TDA seguiu o êxodo de milhões de pessoas. A expansão começou pela fronteira com a Colômbia, em Cúcuta, onde a facção organizou rotas clandestinas e passou a cobrar pela passagem. Atualmente, eles praticam extorsão, de forma similar às milícias no Brasil.
Um comerciante venezuelano em Cúcuta relatou que é obrigado a pagar cerca de 100 dólares todo domingo e, se não paga, os criminosos “queimam o carro, lançam uma granada, matam um familiar seu, sequestram”.
Ameaça em Roraima
No Brasil, o TDA é hoje a facção venezuelana mais ativa em Roraima, presente em Boa Vista, Mucajaí e Pacaraima. Roraima é a principal porta de entrada da migração venezuelana, mas junto com as famílias que buscam uma vida digna, entram também criminosos. O acesso ao território brasileiro ocorre muitas vezes por "caminhos alternativos", ou trochas, onde não há fiscalização.
A violência ligada ao TDA em Roraima é intensa. Em janeiro deste ano, a descoberta de um cemitério clandestino revelou dez corpos enterrados. O delegado Wesley Costa de Oliveira, da DRACO-RR, afirmou que os criminosos cometem "homicídios mais bárbaros e mais chocantes com desmembramentos dos corpos para causar terror". Há informações concretas de que armamentos fornecidos pelo Trem de Aragua abastecem o Comando Vermelho no Rio de Janeiro.
O avanço de gangues como o TDA faz crescer a violência nas ruas. Isso gera discriminação contra os próprios venezuelanos que vieram em busca de recomeço no Brasil. Há relatos de extorsão já na fila do posto de triagem da Operação Acolhida, com criminosos vendendo vagas e chegando a assassinar quem reclamava. A presença do TDA serve como um sinal de alerta, pois relatos policiais indicam que a rota pelo Norte poderá ser intensificada com o fechamento do Mar do Caribe devido à política dos EUA.
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